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vela  por  mulheres |

blog das mulheres do mar

relatos do nascimento de uma velejadora


Duas jovens a bordo de veleiro, uma delas grávida. o céu está azul e o mar calmo.
A bordo do Veleiro Volare: Rossana, minha mãe (Cândida) e eu na barriga.

Me chamo Julia, e, não por acaso, sou afilhada da Rossana (irmã mais nova do meu pai, Werner Luis), que foi a responsável por me inserir nesse blog, que admiro tanto - o blog, ela, e essas mulheres maravilhosas do Projeto Vela Por Mulheres, um projeto inovador para quem realmente curte sair da zona de conforto- e gostaria deixar desde já registrada além da admiração, minha gratidão pelo convite de poder compartilhar um pouco da minha vivência na vela.

bebê de 6 meses a bordo, numa cadeirinha.
Eu, com seis meses, a bordo do Veleiro Volare.

Bem, a minha relação com veleiros, mar e vento nasce praticamente desde a minha concepção. Conforme já muito bem relatado pela minha dinda por aqui, a tradição da família na vela começou com o meu avô Hermann Werner. Ao longo dessa jornada, nossa vida a bordo se encontra e começa ainda na barriga de minha mãe, Cândida.


Quando nos velejos familiares a bordo do O’day23 chamado “Volare”, minha mãe, em plena a gestação, e apesar de sentir um pouco de medo e enjoos, fazia questão de participar da tradição da família Hädrich a bordo dos veleiros.




Menina criança com colete salva-vidas.
Meu pai nunca nos deixou subir a bordo sem colete, ainda que o barco estivesse atracado no Yatch Club.

Essa tradição transcendeu gerações e na minha vez, pude experimentar um papel de protagonismo a bordo, e, ao contrário do relato da minha dinda que não se sentia tão incluída no velejo, mais restrita a cozinha e limpeza de convés - os tempos e a evolução do papel feminino contribuem para isso - incentivada pelo meu pai e com o apoio do meu avô, em 1998 me matricularam na Escola de Vela no Rio Grande Yatch Club (RS), com nove anos de idade- destinada a ensinar vela para crianças e adolescentes- e no meu caso, na classe optmist (para crianças). Meu pai me levava e buscava nas aulas, e, muitas vezes nos acompanhava nos passeios (eu adorava), onde aprendi muitas coisas e fundamentos da vela.


Menina segurando troféu. Competição de optmist.
Troféu da minha segunda regata a bordo meu optimist. Segundo lugar feminino. Quinto lugar na colocação geral (feminino e masculino).

Aprendi os principais nós e amarrações para içar velas, atracar e desatracar com segurança (o nó em oito foi o primeiro que aprendi, seguido pelo lais de guia …). Muitas lições sobre a geografia local, sobre a (in)existência de baxis, correntes e correntezas, condições meteorológicas, e tudo que precisamos saber para um velejo seguro.

Além, é claro, das denominações técnicas do veleiro, regras de segurança no mar, regras de preferência, de regatas, e... essa era apenas a parte teórica. Depois bora fazer o que fui fazer: velejar sozinha. Chegando inclusive a competir em algumas regatas, com lições que levo com muito carinho comigo.


Além de inúmeros passeios até a Ilha dos Marinheiros, uma ilha lagunar localizada junto a Laguna dos Patos, sendo a maior e mais fértil ilha do interior do Estado. Contando com uma linda lagoa formada no interior da Ilha, no berço das dunas, com água da chuva, indescritivelmente linda, proporcionando banhos inesquecíveis. Um verdadeiro convite aos desbravadores da natureza.

E, finalmente ganhei meu tão sonhado barco, um optmist. Foi então, quando se abriu um mundo novo pra mim, conexão com a natureza, liberdade, auto confiança para montar e desmontar um optmist sozinha, colocar na água, tirar da água, enfrentar mal tempo e mudanças bruscas climáticas em alto mar, até dominar o medo e conseguir chegar em terra firme com segurança. E quem me conhece sabe o quão pequenina sou, mas nunca me intimidei e fazia tudo isso com muita confiança - muito dela desenvolvida nas tomadas de decisões sozinha à bordo.

Mas, aos doze anos (junto com um pouco de rebeldia da adolescência) resolvi dar uma parada. Assim, houve um hiato de dez anos nessa paixão. Até que, aos 22 anos, tive a oportunidade de experimentar o Stand Up Paddle Surf, coincidentemente através de um dos professores da escola de vela, hoje em dia instrutor de kite também. Foi literalmente amor, paixão e alucinação a primeira surfada. Lembro inclusive que a maioria do pessoal via o Stand Up Paddle mais como uma forma de remar em águas mansas, mas como boa aventureira que sou, meu objetivo sempre foram as ondas, modalidade conhecida como SUP WAVE. E assim foi.

mulher surfando com SUPWave
Um dia de muito SUPWave na Praia do Cassino (Rio Grande/RS).

Na época eu ainda estava na faculdade, e a vida de estagiária não me permitia adquirir tão rápido quanto queria, a minha prancha pois os recursos financeiros eram bem escassos. Mas, algo em torno de seis meses depois, eu estava me formando. Então, ganhei da minha dinda Rossana e meu “dindo emprestado”, Paulo, uma parte do valor e consegui completar o resto para comprar o tão sonhado SUP. E, ato contínuo, fiz minha primeira aula de kitesurf no ano de 2012, e dali em diante nunca mais parei.



Mulher pegando onde de SUPWave na praia do Cassino.
Foto retida do site https://www.surfkssino.com que divulga as melhores imagens do surf na Praia do Cassino, eu fui clicada colocando na parede dessa linda ondinha.

Tive a sorte de encontrar em meu caminho um grande “guru”, incentivador, apoiador e parceiro de vida, que também possui esse amor pelo mar e ventos , que me conectou ainda mais com esse esporte e que, muito (ou tudo) do que sei sobre o kitesurf devo a ele, que não por acaso, é meu marido também, gosto de brincar que o kite nos uniu.


mulher em primeiras aulas de kitesurf
Minhas primeiras aula de Kitesurf com meu amor guru marido e parceiro para as melhores aventuras, velejador e praticante do Kitesurf desde 2010, Michel Porto.

mulher veleja com o pai.
Eu e meu pai (grande incentivador) a bordo do Imprevisto, atual veleiro dele.

Seja o velejo, a bordo de um veleiro, de Kitesurf, ou ainda o surf com Stand UP Paddle, ou qualquer outra forma de estar em contato com os elementos da natureza (vento, mar, terra…) vão muito além de diversão. São atividades que fazem parte de um estilo de vida, que levo muito a sério, e que são essenciais para minha saúde física, mental e espiritual. A vela, seja em veleiro ou no kitesurf, nos mantém em harmonia com a natureza fonte de energia que alimenta alma. Por isso denomino estilo de vida, uma cultura.

Enfim, pra mim representa muito além de um esporte, uma diversão, um hobby. Além de ser fonte de auto conhecimento e grandes desafios. É um estilo de vida que me ensinou a confiar na minha intuição, calcular riscos, arriscar, recuar, divertir, levar a sério... os amantes do esporte sabem a transformação que ele tem o poder de provocar em cada um.

E poder compartilhar esse tipo de experiência é sempre um convite a mergulhar em tantas lembranças que a vida náutica nos trás. Arrisco a dizer que mesmo os perrengues são “relativamente” prazerosos, porque é claro que eles existem, e os riscos também. Mas com cautela, responsabilidade, estudo e respeito a natureza, sempre é possível minimizar riscos fazendo da vela e dos esportes em geral, uma grande lição de vida.


Nas fotos acima: Eu treinando alguns “grabs “ de freestyle no kite, na beira dos molhes da barra na Praia do Cassino, lugar onde adoro velejar. Registro também um dia de onda, estes são sempre desafiadores é muito prazerosos! Amo a sensação de liberdade que eles proporcionam.


Que os bons ventos soprem à favor!

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